Ambiente no Mundo

ESTRAGO DA NAÇÃO

quarta-feira, 27 de junho de 2007

Zonas urbanas

Há um século atrás, apenas 10% da população mundial vivia em cidades. Após a II Guerra Mundial, em 1950, aumentava para os 29%, estabilizando-se ao longo das duas décadas seguintes. Actualmente, já quase metade (45%) da população humana vive em cidades.
A concentração populacional nas urbes ocorre na generalidade dos países, mas na América do Norte, Europa e América Latina mais de 75% dos seus habitantes residem agora em cidades, tendo também aumentado a importância das mega-urbes que não têm parado de crescer. Em 1975 existiam apenas cinco cidades com mais de 10 milhões de pessoas: Tóquio (19,8 milhões), Nova Iorque (15,9), Cidade do México (11,2) e São Paulo (10). Hoje já são 19: Tóquio (26,4 milhões), Cidade do México (18,1), Bombaim (18,1), São Paulo (17,8), Xangai (17), Nova Iorque (16,6), Lagos (13,4), Los Angeles (13,1), Calcutá (12,9), Buenos Aires (12,6), Daca (12,3), Carachi (11,8), Deli (11,7), Jacarta (11), Manila (10,9), Pequim (10,8), Rio de Janeiro (10,6) e Cairo (10,6).

Prevê-se que em 2015 sejam já 23, sendo que Tóquio, Bombaim, Lagos, Daca e São Paulo terão mais de 20 milhões de habitantes. Conforme se constata têm sido sobretudo as cidades dos países em desenvolvimento que mais se engrossam com novos habitantes urbanos. Com efeito, sobretudo a África, Ásia e América Latina têm tido taxas de crescimento muito elevadas ao longo das últimas décadas. Em muitos países, esse acréscimo é o dobro daquele que se regista para a população global. No continente africano, a população urbana representava 20% em 1960, mas hoje já atinge cerca de 40%. Na Ásia e Pacífico, representa 35% do total, tendo tido uma taxa de crescimento da ordem dos 2,6% ao ano entre 1995 e 2000.

De qualquer modo, Europa e América do Norte são as regiões mundiais com maior percentagem de população urbana – cerca de 75% – mas tendo praticamente estabilizado nos últimos 30 anos. Segundo as Nações Unidas, todos os dias cerca de 160 mil pessoas mudam-se das zonas rurais para as cidades. Regra geral, estes fortes e rápidos crescimentos urbanos implicam a desertificação humana dos meios rurais e, no caso das cidades, a ruptura das infraestruturas, o aumento do desemprego e a pressão por vezes insustentável dos recursos naturais e energéticos.

Essa situação é particularmente visível nos países em vias de desenvolvimento, onde os investimentos são escassos para dar resposta a tão elevadas migrações. Embora as cidades produzam a nível mundial cerca de 60% dos produto interno bruto, aí residem as maiores franjas de pobreza. Por exemplo, em África, cerca de 37% dos residentes em zonas urbanas vivem em barracas ou edifícios sem condições mínimas de salubridade. Na Ásia essa percentagem é de 18 e na América Latina é de 9%. No Rio de Janeiro, no Brasil, quase 40% da população vivem em favelas. Nestas situações, além da insalubridade, a sensibilidade às catástrofes naturais (terramotos, tempestades e deslizamentos de terras) é extremamente elevada.

Apesar das características urbanas das cidades não serem muito favoráveis à agricultura – aliás, em muitos casos o seu crescimento foi feito sacrificando áreas aráveis –, em algumas cidades ainda tem uma importância crucial para a alimentação, o que em certa medida minimiza as carências dessas populações, dado que os produtos alimentares são aí muito mais caros do que nas zonas rurais. Por exemplo, na Tanzânia e no Quénia, duas em cada três famílias urbanas têm quintais usados para cultivo, enquanto 60% do fornecimento alimentar dos cidadãos do Cairo, no Egipto, provém das próprias áreas de cultivo dentro da cidade. Mesmo na Europa, a existência de pequenos quintais para agricultura de subsistência e sobretudo de recreio é prática comum em várias grandes cidades, como em Berlim.

De qualquer modo, a elevada concentração populacional torna dramáticas as condições de vida urbanas nos países subdesenvolvidos. Nesses países, uma em cada quatro casas alberga pessoas em estado de probreza, atingindo os 40% na África e os 25% na América Latina. Por outro lado, menos de 35% das cidades desses países possuem infra-estruturas de tratamento de esgotos e entre um terço e metade dos lixos urbanos produzidos não são recolhidos pelas autoridades municipais. Face à precaridade das condições de saúde, as taxas de morbilidade e mortalidade são bastante elevadas nestas regiões.

Estima-se que 5,8% das crianças das cidades do Terceiro Mundo morrem antes de atingir os cinco anos de idade. Uma das principais causas é a escassez de higiente e de água potável. Com elevados crescimentos feitos de forma anárquica, a água é escassa e de má qualidade. As condições sociais e educacionais também são, na esmagadora maioria dos casos, bastante fracas, originando conflitos sociais significativos. Cerca de 30% das cidades dos países em vias de desenvolvimento possuem áreas significativas consideradas inacessíveis ou perigosas para a própria polícia local. Em certa medida, sobretudo em África e Ásia, a degradação ambiental e os conflitos bélicos nas últimas três décadas “empurram” as pessoas para as cidades, na esperança de maior protecção e melhores condições de vida, o que nem sempre se confirma. Por exemplo, a guerra civil em Moçambique na década de 80 obrigou ao êxodo rural paera as cidades de cerca de 4,5 milhões de habitantes.

A concentração populacional também intensifica os prejuízos resultantes dos desastres naturais, muitos dos quais associados à intervenção negativa das actividades humanas, nomeadamente a deflorestação, a urbanização desenfreada e o aquecimento global. Com efeito, nas últimas duas décadas, os desastres geofísicos, sobretudo terramotos e vulcões, mantiveram-se estáveis. Ao invés, os desastres ou catástrofes directamente relacionadas com factores humanos aumentaram significativamente. Nos anos 90, mais de 90% das mortes em desastres naturais foram devidas a eventos hidrometeorológicos, como secas, tornados e inundações. Neste último caso, embora contabilizem cerca de dois terços da população afectada por desastres naturais, representaram, contudo, apenas 15% das mortes.

De acordo com o Centro de Pesquisa em Epidemiologia e Desastres (CRED) – um organismo da Universidade Católica de Louvain, na Bélgica – de entre os 20 mais mortíferos desastres naturais ocorridos nos últimos 30 anos, seis foram fenómenos de fome, cinco provocados por secas, outros cinco por terramotos (directa ou indirectamente), dois foram cheias e os restantes provocados por actividade vulcânica e furacão (um, cada). Apenas estes 20 desastres – concentrados sobretudo na Ásia e África – provocaram quase 2,4 milhões de mortes, dos quais quase 75% originados pela seca e fome. A situação mais calamitosa ocorreu na Etiópia: entre 1972 e 1974, a seca e a fome provocaram cerca de 900 mil mortes. Ciclicamente outros episódios afectaram este país africano, novamente em 1983-1984, em 1993 e em 1999-2000, nem sempre sendo possível apurar o número de mortes causadas, mas a população afectada ultrapassou sempre os 6 milhões de habitantes. No entanto, este não é o único país africano afectado pelas secas e, consequentemente, pela fome. Botswana, Burkina Faso, Chade, Quénia, Mauritânia e Moçambique sofrem regularmente de carências alimentares.

A falta de infraestruturas de transporte e a própria corrupção interna dificultam, muitas vezes, a chegada de ajuda alimentar e médica do exterior. Contudo, a Ásia é o continente dos desastres. Cerca de 75% das catástrofes naturais mundiais ocorrem neste continente. À cabeça da lista surge a China que, entre 1971 e 2000, registou 300 desastres naturais que mataram 311 mil pessoas, seguindo-se a Índia (300 desastres e 120 mil mortos), as Filipinas (cerca de 300 desastres e 34 mil mortos), Indonésia (200 desastres e mais de 15 mil mortos) e o Bangladesh (181 desastres e mais de 250 mil mortos).

Mais do que noutra região mundial, nota-se neste continente o crescimento das catástrofes associadas aos fenómenos hidrometeorológicos. Com efeito, enquanto o número de erupções vulcânicas e terramotos se situaram entre os 20 e os 100 por quinquénio desde 1972, as cheias e tempestades (cheias, secas, ciclones e furacões) aumentaram de 200 ocorrências no quinquénio de 1971-1975 para uma média de 400 ocorrências nos dois quinquénios da década de 90. Neste continente, o número global de mortos desde 1972 ascende a quase 1,5 milhões de pessoas, tendo afectado a vida de quase 4 milhões e provocado prejuízos da ordem dos 400 milhões de euros.

A dimensão humana e os estragos de bens materiais também depende do grau de desenvolvimento dos países. Por exemplo, na Austrália, Nova Zelândia e Pacífico Sul – também bastante sujeitos a desastres naturais –, os prejuízos das três últimas décadas atingiu os 25 milhões de euros, mas a mortalidade não ultrapassou as quatro mil pessoas. Aliás, a mesma situação se verifica na Europa e América do Norte, onde as tempestades são também frequentes em alguns países – como se verificou este ano –, mas as vidas humanas perdidas são menores. Nestas duas regiões, os incêndios têm também vindo a assumir contornos catastróficos, sobretudo no Mediterrâneo (sobretudo Portugal, Espanha e Grécia), Estados Unidos e Canadá. Na América do Norte, em média, a área ardida por ano cifra-se, actualmente, nos 5 milhões de hectares, quando em 1972 não ultrapassava os 3 milhões, havendo mesmo anos em que são destruídos 8 milhões de hectares. Mesmo na América Latina, com uma economia melhor do que a generalidade do continente asiático, a mortalidade associada aos desastres naturais tem diminuído ao longo das últimas três décadas – tendo sido nos anos 90 cerca de um terço do número de mortes ocorridas na década de 60 –, pese embora seja ainda bastante elevada.

De qualquer modo, também neste continente se verifica uma tendência para aumentar os desastres naturais associados ao clima, que provocaram um aumento dos prejuízos económicos da ordem dos 230% entre os anos 60 e 90. A América Latina é também particularmente afectada pelo El Niño que, além das tempestades, provoca ciclicamente um decréscimo abrupto nas pescas e agricultura com perdas económicas significativas.

Por exemplo, o Perú viu o seu produto interno bruto decair 12% depois do El Niño de 1983. As guerras e outros conflitos bélicos também são responsáveis por um elevado número de vítimas e perdas económicas. O CRED inventariou nas últimas três décadas cerca de 450 conflitos internos ou envolvendo vários países que provocaram quase 2,3 milhões de mortos e mais de 300 milhões de pessoas afectadas. Em todos os continentes, com excepção da América do Norte, houve conflitos mais ou menos sangrentos, mas as maiores mortalidades nos anos 90 ocorreram nas guerras do Ruanda (500 mil mortos), Sudão (400 mil), Somália (cerca de 300 mil) e Angola (110 mil mortes). Contudo, quer pela dimensão e continuidade, quer também pela mortalidade, pelos últimos 30 anos, nefastas batalhas marcaram vários povos, destacando-se, para além dos já referidos, os conflitos na Guatemala, Zaire, Congo, Argélia, África do Sul, Colômbia, Iraque e Koweit (Guerra do Golfo), Balcãs e vários conflitos envolvendo as repúblicas da antiga União Soviética.

Zonas Urbanas - Situação em Portugal

Depois de fluxos migratórios importantes até à década de 70 – a emigração, por um lado, e o regresso das ex-colónias, por outro –, Portugal praticamente estabilizou a sua população nos 10 milhões de habitantes, tendo apenas aumentado cerca de 200 mil nos últimos 20 anos. No entanto, ao nível da distribuição populacional , as últimas décadas mostraram forte dinamismo com o acentuar da litoralização e a desertificação humana do mundo rural. Entre 1981 e 1999, dos então 305 municípios do país – incluindo Açores e Madeira, mas ainda não considerando Odivelas, Trofa e Vizela –, 124 perderam mais de 10% dos seus habitantes.

Ao invés, 59 concelhos aumentaram a população residente em mais de 10%. A esmagadora maioria dos concelhos “ganhadores” estão sobretudo nas duas área metropolitanas de Lisboa (distritos da capital e Setúbal) e Porto (incluindo aqui o distrito de Braga), com aumentos que em alguns casos foram da ordem dos 30% ou mais. Só os dez concelhos que mais cresceram nas últimas duas décadas – Sintra, Loures, Seixal, Vila Nova de Gaia, Matosinhos, Braga, Vila Franca de Xira, Amadora, Cascais e Maia – têm agora mais quase 444 mil habitantes que no início da década de 80.

A concentração populacional do país nas Áreas Metropolitanas de Lisboa – incluindo o distrito de Setúbal – e Porto – englobando o distrito de Braga – mostra um profundo contraste com o interior, onde as actividades económicas são muito reduzidas. Por exemplo, o poder de compra em Portugal apenas está acima da média nas regiões da Grande Lisboa, Grande Porto e Península de Setúbal. Os efeitos desta concentração fez aumentar a pressão sobre os recursos hídricos – as principais cidades, por exemplo, são abastecidas por água proveniente de locais distantes várias dezenas de quilómetros – e provocou problemas ao nível dos transportes, energia e qualidade ambiental. Por exemplo, os cinco concelhos mais populosos – Lisboa, Sintra, Vila Nova de Gaia, Porto e Loures (incluindo a área do novo município de Odivelas) – ocupam uma área de apenas 0,8% do território continental, mas vivem aí 18% da população. Nos 23 concelhos, todos do litoral, com mais de 100 mil habitantes – dos quais apenas três (Coimbra, Feira e Leiria) não pertencem aos distritos de Lisboa, Porto, Braga e Setúbal – vivem cerca de 40% dos portugueses apinhados em apenas 3,5% da área do país.

Os fenómenos de massificação urbana e construçãio em altura intensificaram-se significativamente, face a um ritmo de crescimento na construção de habitações da ordem dos 20% por década. No lado oposto geograficamente – ou seja, no interior – as excepções na “razia” populacional são muito poucas: apenas os concelhos com cidades de média dimensão ganharam alguma população, mas as suas freguesias rurais continuaram a perder habitantes e a economia dessas regiões tem vindo a definhar.

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]



<< Página inicial